Jaqueline Lima
3 min readJan 10, 2023

Há um ano eu ouvi de um médico que se eu tivesse demorado cinco minutos a mais para chegar ao hospital com meu marido eu provavelmente estaria viúva.

De um domingo à noite tranquilo, um dos nossos momentos prediletos, para um verdadeiro pesadelo em alguns minutos.

Diante da imposição da brevidade da vida a gente simplesmente age, mas nosso corpo que é nosso todo lida com as consequências depois.

Esse foi um dos grandes marcos em um ano muito difícil pra mim. Talvez o mais difícil para a minha saúde mental.

Quando você vive com medo de que coisas fora do seu controle aconteçam e elas realmente acontecem, o que já estava fora do lugar parece que não voltará ao seu estado natural nunca mais.

Mesmo sem perceber, mesmo dizendo estar tudo bem, não estava.

Eu precisei parar ainda mais para olhar para mim e não foi fácil. Continua não sendo, mas é um pouco mais leve.

Dentre tantas coisas tão minhas que nasceram dessa dor, uma delas foi um profundo pesar e questionamento sobre o significado da vida e da morte. Por mais que eu tenha o repertório teológico para responder todas as minhas perguntas, eu sinto certa melancolia nunca antes experimentada ao pensar sobre isso.

Como a vida pode seguir?

Em que velocidade?

Por quanto tempo?

O que é essa jornada?

E se eu morrer amanhã?

Vão sentir minha falta?

Como eu serei lembrada?

Eu preciso fazer alguma coisa para ser lembrada?

Perguntas que ainda soam mais desconfortáveis desde 09/01/2022, mas que eu quero encarar com leveza e sinceridade.

Um k-drama que estreou na Netflix ano passado acompanha a vida de três amigas lidando com a morte. Trinta e nove foi mais um da minha enorme lista de séries assistidas, mas me marcou demais. Apesar de ter acompanhado a série durante o ano, eu simplesmente deixei de lado o último capítulo porque desde o primeiro momento eu sabia o que ia acontecer.

Sem avisar me veio a vontade de fechar esse ciclo em 31 de dezembro de 2022.

No fundo eu sabia que precisava chorar um pouco coisas minhas e coisas de uma ficção.

E um k-drama me ensinou.

[SPOILER]

Enquanto esperavam pela morte da amiga diagnosticada com um câncer terminal, as demais apenas viviam e nós vemos isso em boa parte do episódio. Coreanos são bons demais em mostrar a vida sendo apenas vida e isso sempre me toca muito.

Essa sequência de cenas de trabalho, exaustão, riso, descanso, preocupação, momentos felizes e tristes me tomou pela mão e me fez viver enquanto assistia a resposta para os meus dilemas. A fé tá na vida.

Há beleza em viver.

Um dia de cada vez, porque tudo é vida.

Não são apenas os momentos decisivos ou belos.

O passar do tempo.

A espera que se move.

O reconhecer que cada minuto se impõe mesmo que a gente não queira.

Confesso que durante muito tempo (e talvez um resquício disso ainda esteja aqui) eu achei isso muito injusto.

Mas ali, na telinha, eu achei bonito.

E chorei meu choro doído. E recebi esse abraço de Deus.

Um Deus que me vê.

Um Deus que fala por meio de um k-drama.

Um Deus ao qual sou muito grata, porque, enquanto me emociono escrevendo isso aqui, do outro lado do escritório, meu marido joga videogame.

Um dia comum em que a fé tá na vida.