Jaqueline Lima
3 min readNov 20, 2023

No meu processo de entender minha própria jornada, tenho visitado meu passado. Minha memória é como uma nota fiscal do almoço de julho de 2021 quando se trata de rememorar lembranças claras: apagada.

Mas, talvez por meu perfil um tanto pessimista, eu tenha a tendência de olhar e me fixar apenas nos eventos que me marcaram negativamente.

Ainda na pegada dos tons da vida do texto anterior, eu tenho feito o exercício de olhar para esses eventos ou comportamentos sem simplesmente acreditar que eles arruinaram minha vida.

Há muita beleza em reconhecer que a vida acontece apesar. E que existe algo em nós que é tão potente e busca a luz que dará energia para o crescimento, assim como o broto de folha mira os raios de sol que atravessam a janela de um apartamento escuro para que possa enfim, desabrochar.

E, esse apesar, nem sempre é com pesar (desculpa haha). Características que nos fazem quem somos e não são em si ruins, também estão presentes na vida.

Pensei em tudo isso voltando da minha última visita a minha mãe.

Foi uma tarde agradável, de muita conversa, risada e cumplicidade. (Ela é tão linda e fofa. É tão bom saber que ela existe e é minha mãe.).

Não me lembro como, mas chegamos no tópico "nós". Talvez por saber que exista uma cobrança externa que sempre vê nossa relação como aquém do desejado, mamãe sempre reafirma que ama nossa relação.

Durante a conversa, minhas respostas às interações foram 100% genuínas, mas, como boa overthinker haha, fiquei pensando sobre porque disse o que disse e descobri um desses pontos positivos na negatividade da vida.

Minha autonomia. Minha mãe sempre me viu como um ser humano. Um par. Alteridade. Infelizmente, isso é mais incomum do que se imagina, mas me deu uma tranquilidade para escrever minha própria jornada que é muito bonita.

Nós sempre conversamos sobre minhas decisões, mesmo quando eu era adolescente, e eu sempre senti que ela confiava em mim. Por isso, nunca tive necessidade de mentir ou me senti desvalorizada.

Ao mesmo tempo, analisando tudo isso hoje, eu não sei se teria a mesma tranquilidade (pelo menos aparente) que minha mãe transparecia. É como se eu achasse que na verdade o que nós tivemos foi muita sorte (e graça de Deus rs).

Na mesma medida, isso imputou sobre mim uma necessidade de crescer precocemente, com a qual tenho que lidar para o resto da minha vida.

Mas, só agora, aos 33, falando casualmente e sem preparação sobre como essa relação de cumplicidade me deixou e deixa feliz, eu pude perceber mais uma vez ela: a tal da nuance.

Pode parecer bobo, mas ver luz onde só se via trevas tem um poder impressionante de nos ajudar a seguir em frente. É muito confortável pra mim me voltar para o meu passado e analisá-lo de ponta a ponta com uma sensação de paralisia sobre o futuro.

Também nos ajuda a lembrar que estamos, todos, lidando com a nossa humanidade enquanto vivemos. Não seremos perfeitos. Exigir isso de quem nos criou, quando sabemos que eles fizeram o melhor que podiam na situação em que estavam, é desonesto.

Deixar ir e ver que a vida tem belas inconsistências é poderoso.